Pode até ser difícil admitir, mas quem nunca procurou na internet um
meio para se aproximar de uma pessoa em busca de um romance? Não se
trata apenas de situações criadas por adolescentes em plena puberdade.
O assunto é sério e pessoas "vacinadas" contra qualquer tipo de ação
contra elas acabam
caindo em golpes de criminosos sem face, que escondem
a verdadeira identidade, prometem casamento e roubam quantias que podem
chegar a R$ 300 mil.
Casos onde há contato direto podem ser fatais, como a morte da jovem
paranaense Ângela Maria de Barba, de 28 anos, atraída, segundo a
polícia, pelo trocador de ônibus cearense Clécio de Oliveira Braga, de
32 anos, para o estado do Ceará.
De acordo com a delegada titular da Delegacia Delegacia de Proteção ao
Turista (Deprotur), Adriana Arruda, a ocorrência está sendo tratada como
latrocínio (roubo seguido de morte), já que o suspeito retirou a
quantia de R$ 28 mil da conta-corrente de Angela e jogou o corpo da
jovem nas margens da BR-304, próxima do município de Aracati, no Litoral
Leste cearense.
Os dois começaram o relacionamento amoroso por meio do Facebook. Clécio
foi indiciado por latrocínio, falsificação de documento e falsidade
ideológica.
Sequestro
Outro fato que repercutiu no Estado foi o sequestro da estudante de 15
anos L.G.S., de Pacajus, a 50 km de Fortaleza, em fevereiro do ano
passado. A jovem foi atraída por um carioca de 33 anos, após contato por
meio de uma rede social.
Segundo um parente da garota, o sequestrador teria prometido dinheiro, roupas, sapatos e outros objetos.
Histórias como essas não são novas. O golpe do romance, noivado,
casamento ou amor à distância não surgiu com a massificação do uso da
internet.
A história mostra que nos tempos áureos do rádio, emissoras de vários
países, dentre eles o Brasil, transmitiam programas com intuito de unir
casais, distantes milhares de quilômetros. Alguns romances davam certo
para os dois. Outros davam certo apenas para o golpista. O mesmo era
feito em seções especializadas em jornais e revistas.
Scammers
Você sabe quem são os scammers? Talvez a falta de informação sobre
eles, 20 anos após a popularização da internet, seja um dos motivos
pelos quais as pessoas são facilmente enganadas por quem promete
oportunidades de um grande amor mas que são, na verdade, golpistas.
Scammers são criminosos que que criam perfis, contas ou emails falsos a
fim de obterem vantagens financeiras.
Para chegar a isso, os scammers precisam criar um cenário bem
arquitetado e fazer com que a vítima realmente acredite naquilo. Apesar
das facilidades em checar a veracidade das informações cedidas, muitas
pessoas ainda caem em tais golpes.
A engenheira eletricista cearense Cacilda Girão, de 53 anos, é uma das
vítimas. Ela acabou perdendo R$ 16 mil após se envolver com um "Don Juan
virtual", que se dizia um empresário inglês e que estava precisando de
dinheiro.
"Abri (a mensagem) por curiosidade. A conversa é sempre a mesma, que
acha você linda e que quer te conhecer. Respondi em inglês e aproveitei
para treinar a língua. Quando eles convidam, pedem logo para ir para o
email, mas convidei para ser amigo. Foi burrice, porque ele pôde ver
tudo sobre mim", contou.
Mesmas histórias
As histórias dos perfis falsos são quase sempre as mesmas. "Eles se
apresentam como homens com idade entre 25 e 55 anos, solteiros ou viúvos
com filhos adolescentes. Eles dizem que trabalham como empresários,
engenheiros médicos, professores, arquitetos, negociantes de arte, de
ouro ou de petróleo. Também se dizem tementes a Deus e recheiam os
emails com histórias tristes e comoventes, como a morte ou traição da
esposa e doença do filho ou filha. Romantismo é a arma fatal para a
fraude", conta o psicólogo Marcelo Salgado, especialista em
psico-informática e professor do curso de Psicologia da Unifor.
Cacilda admitiu à redação do Diário do Nordeste Plus que a falta de
informação sobre os golpes virtuais foi um dos motivos dela ter sido
enganada. "Todo mundo sabia que tinha esses golpes, mas ninguém dizia
nada. Depois que caí, muita gente falou sobre casos. Já salvei muitas
pessoas porque conto sobre", afirmou a engenheira.
Homens na mira
As vítimas não são apenas mulheres. Homens também são atraídos pelos
golpistas, após promessas de grandes oportunidades financeiras.
Foi o que aconteceu com o empresário Júlio Campos (nome fictício), de 41 anos, que enviou R$ 13 mil para uma conta no exterior.
Júlio relembra de quando conheceu um homem na internet que o ludibriou a
realizar o depósito. "Ele dizia que era um americano, que estava
prestando serviço militar no Afeganistão e que estava impossibilitado de
sair. Além disso, disse que tinha que buscar uma mala e precisava que
alguém pagasse as taxas para liberação da mala. Ele fez todo um negócio
bem feito, com site, email e rastreamento", lamentou o empresário.
Polícia alerta para falsa ilusão de segurança
Para a delegada da Delegacia da Mulher, Jeovania Holanda, cada um deve
adotar uma conduta de prudência ao repassar informações para terceiros.
"Há uma falsa ilusão de segurança quando as pessoas acessam as redes
sociais. Eles passam de forma generosa e perigosa várias informações. A
partir delas o autor das infrações vai montando seu teatro criminoso.
Segurança também é conduta e comportamento. Nós contribuímos com a nossa
segurança, dependendo da forma como nos portamos", alerta Jeovania.
Além do prejuízo financeiro, algumas vítimas ficam devastadas
emocionalmente. Há situações em que elas chegam ao suicídio. Indignada
com histórias de ataques virtuais e com as sérias consequências às
vítimas, a funcionária pública mato-grossense Crystal Brasil (nome
fictício) resolveu criar o blog "Fora Scammer", que busca combater e
divulgar ações contra golpistas da web. "O que eu recebo de mulheres, eu
publico. Hoje recebemos entre 150 e 200 denúncias por semana. Os textos
são copiados. Não existe uma pessoa no computador. É um grupo inteiro
que trabalha nisso. A mulher fala com três ou quatro, que ficam em uma
lan house, e eles trocam de turno a cada 6 horas", relata, informando
que os golpes estão, agora, até no Whatsapp.
Como mostrou o Diário do Nordeste em fevereiro deste ano, Fortaleza não
conta com delegacia especializada para apurar crimes do gênero. Hoje,
os casos são distribuídos entre as delegacias da Capital. No Brasil, 11
estados contam com esse tipo de setor.
Desde o ano de 2009, a Polícia Federal (PF) disponibiliza em seu site
um serviço de denúncia de crimes que violam os direitos humanos.
O endereço para acessar a área, na página da PF, é: http://www.dpf.gov.br/servicos/fale-conosco/denuncias.
Presença de crianças preocupa
Para a Polícia, a presença de crianças e adolescentes na internet é um
fator a mais para aumentar a preocupação e o cuidado com os
relacionamentos via redes sociais.
Segundo a titular da Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do
Adolescente (Dececa), Ivana Timbó, a faixa de idade que mais se
relaciona virtualmente está compreendida entre 14 e 17 anos.
Segundo ela, apesar de poucas, há ações criminosas a partir do meio
virtual contra esses jovens em todo o Estado, sendo a concentração maior
de casos na Capital e na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
Meninas vitimizadas
Ainda conforme informações de Ivana Timbó, as meninas são as mais
envolvidas, pois "se deixam levar pelo romantismo e são fáceis de serem
ludibriadas".
"Nosso objetivo é proteger integralmente (as crianças e os
adolescentes). Os pais devem estar atentos. A internet é um meio de
comunicação que pode ser usado para o bem e para o mal. Que o uso do
computador seja acessível e o uso da criança seja monitorado pelo pai e
pela mãe. A família tem de colaborar e não deve esperar acontecer",
alerta a titular da Dececa.
"Pessoalmente a gente tem que ter esse cuidado. O que dirá através
desse veículo que permite tantas maquiagens?Não há lucro fácil, não há
dinheiro fácil. Não há príncipe encantado", disse a delegada Jeovania
Holanda.
SAIBA MAIS
Jovem atraída em rede social
A paranaense Ângela Maria de Barba Rocha, de 28 anos, foi atraída a
Fortaleza pelo cearense Clécio de Oliveira Braga, 32, através de uma
rede social.
De acordo com a Polícia Civil, Clécio, que trabalhava como cobrador de
ônibus na Capital, é o principal suspeito de ter matado a mulher.
Conforme as investigações da Polícia, o homem retirou a quantia de R$ 28 mil da conta-corrente de Ângela, logo após matá-la.
O corpo da mulher foi localizado no último dia 5 de março, às margens
da BR-304,na altura do quilômetro 66, no município de Aracati, Litoral
Leste do Estado.
Clécio de Oliveira foi preso na casa dele, no bairro Carlito Pamplona.
Ele é casado e pai de uma criança de quatro anos de idade, mas se
aproximou da jovem, que mantinha um perfil em um site de relacionamento
para começar um relacionamento amoroso.
Ainda de acordo com informações do delegado geral, depois de conquistar
a confiança da mulher, Clécio Oliveira conseguiu convencê-la a
abandonar o emprego e a família.
De acordo com os exames realizados no corpo, Ângela foi assassinada com a utilização de um objeto contundente.
Clécio nega participação no crime, mas não soube explicar o motivo de
ter usado os cartões de Ângela. A Polícia Civil investiga a motivação do
crime e a possibilidade de ele ter feito outras vítimas.
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POSTADA:GOMES SILVEIRA
FONTE:DN
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